quarta-feira, 25 de março de 2015

Discussão sobre o tema Behaviorismo

Olá sou Priscila Santos, 
achei interessante um texto apresentado na disciplina de Desenvolvimento e Aprendizagem ministrada na Unicamp e gostaria de saber a opinião de vcs sobre esse trabalho.



O BEHAVIORISMO EM DISCUSSÃO

Márcia TerraDoutoranda em Lingüística Aplicada/ IEL/UNICAMP

APRESENTAÇÃO
O propósito deste trabalho é tecer algumas considerações sobre o behaviorismo. Para tanto, desenvolvemos o assunto, procurando, em um primeiro momento, reconstituir as condições de emergência do behaviorismo que se verifica em um quadro de crise da Psicologia em busca de sua definição enquanto ciência. Em um segundo momento, buscamos apresentar a linha de evolução do behaviorismo, focalizando as suas principais abordagens quer sejam: (i) behaviorismo Metodológico  (Watson); (ii) behaviorismo radical (Skinner); e (iii) behaviorismo Social (Staats).

1.       O CONTEXTO DE EMERGÊNCIA DO BEHAVIORISMO: A CRISE NA PSICOLOGIA
Para situar os modos de produção da representação de mundo que deram origem aos modelos de concepção e atuação do Behaviorismo, um termo inaugurado por J.B. Watson em seu artigo publicado em 1913 com o título "Psicologia: como os behavioristas a vêem" (FURTADO, 1999), torna-se importante uma reflexão epistemológica relacionada ao percurso percorrido pela Psicologia em busca da sua definição como ciência. Recuperar tal trajetória, que sempre esteve ligada às visões de mundo e de homem dominantes em cada momento histórico da sociedade, é condição essencial à compreensão do contexto de emergência do behaviorismo e dos tipos de demanda que a Psicologia procurou superar até chegar ao estágio de evolução em que se encontra na atualidade.
Em uma perspectiva histórica, as ciências humanas são marcadas por três concepções de mundo e de homem que apresentam características distintas: a cosmocêntrica, a teocêntrica e a antropocêntrica (FREITAS, 2000). Na primeira concepção, a cosmocêntrica, os homens eram meros expectadores assujeitados aos imperativos do Cosmo que tudo regia. Trata-se de uma visão de homem abstrato, a-histórico e subjugado a uma moral de caráter metafísico. Na segunda concepção, a teocêntrica, os fundamentos que explicam todas as coisas, incluindo a produção do conhecimento, permaneciam situados externamente ao homem, entretanto, deslocando-se dos imperativos do Cosmo foram incorporados pelos desígnios de uma ordem divina, de um Deus criador, que a tudo regia.
A terceira concepção, a antropocêntrica, emerge no Renascimento, época em que se verificam transformações radicais no mundo europeu decorrentes do mercantilismo, movimento que levou à descoberta de novas terras e à acumulação de riquezas pelas nações em formação (França, Itália, Espanha e Inglaterra), caracterizando uma transição para o capitalismo e para a formação de uma nova organização econômica e social. A burguesia que emergia como uma nova classe social, visando a alcançar a sua própria emancipação, reivindica a libertação do homem da sua condição de assujeitado à imutabilidade das leis do universo e defende a possibilidade de desvendar a Natureza.
A descoberta de Copérnico, em 1543, ao rejeitar a síntese aristotélica, descentralizando a posição da Terra no universo, altera a posição do homem no mundo bem como de suas relações com ele, consigo mesmo e com Deus, estabelecendo um rompimento epistemológico com a visão de mundo antigo e medieval paradigmado pelo determinismo físico e ontológico da esfera celeste e introduz, assim, uma nova maneira de perceber o homem. (FREITAS,  2000:44).
Com a revolução científica do século XVI, conforme assevera Santos (1997), instaura-se um modelo geral de racionalidade que viria a ser desenvolvido nos séculos vindouros, embora que timidamente no século XVIII, mas que alcança o âmbito das ciências sociais emergentes, no século XIX,
Um modelo totalitário, na medida em que nega o caráter racional a todas as formas de conhecimento que não se pautarem pelos seus princípios epistemológicos e pelas suas regras metodológicas, sendo esta a sua característica fundamental e que melhor simboliza a ruptura do novo paradigma científico com os que o precedem (ibid, p.11)
Em meados do século XVIII, a ciência moderna, saída da revolução científica do século XVI, caracteriza-se pelo crescimento da nova ordem econômica - o capitalismo - que, no século XIX, desencadeia o processo de industrialização e, com ele, a necessidade de respostas e soluções práticas no campo da técnica, um movimento que acarretou transformações sem precedentes na história da humanidade.
A Psicologia que até meados do século XIX constituía um ramo da Filosofia encontrava-se marcada por duas vertentes teóricas antagônicas e inconciliáveis, sendo uma de tendência objetivista e a outra de tendência subjetivista. Ambas herdadas das proposições de dois grandes filósofos: Bacon (1214-1292), fundador do materialismo inglês, cujas idéias valorizam o papel da experiência da ciência (FREITAS, op.cit.) e Descartes (1596-1659).
Descartes, um dos filósofos mais expressivos para o avanço da ciência, postula a separação radical entre o corpo e a alma, ou seja, entre o físico e o psíquico, argumentando que o estudo científico do homem deveria restringir-se ao seu corpo físico, enquanto que à Filosofia estaria designado o estudo da sua alma (DESCARTES, 2000). O dualismo corpo-mente proposto por Descartes dá origem às duas grandes vertentes da Filosofia no século XIX - o idealismo, de tendência subjetivista e o materialismo-mecanicista, de tendência objetivista - que permeiam a Psicologia em geral (FREITAS, 2000; LURIA, 2001; COLE&SCRIBNER, 2000, entre outros).
Conforme pontua Freitas (2000, com base em Japiassu e Marcondes, 1990:68), Descartes foi quem introduziu os conceitos de reflexo e de consciência (muito embora ele não tenha usado o termo consciência mas o cogito que é "a descoberta do espírito por si mesmo, que se percebe que existe como sujeito"). Com Descartes, portanto, de acordo com Freitas (2000:49), surge "o princípio da introspecção, da auto-reflexão da consciência, que teve influência sobre as tendências idealistas, enquanto a interpretação mecanicista ou naturalista da conduta humana representou a sua influência sobre as tendências materialistas".
Emmanuel Kant, filósofo alemão cujas idéias filosófico-racionais derivam da incorporação de elementos como liberdade, individualismo e igualdade que constituíram a concepção de mundo da burguesia européia entre os séculos XII e XVIII, exerceu grande influência rumo ao subjetivismo "ao situar o mundo das idéias na consciência individual" (FREITAS, op.cit.). No continente europeu, seus seguidores afirmavam que "idéias de espaço e tempo e conceitos de quantidade, qualidade e relação originavam-se na mente humana e não poderiam ser decompostas em elementos mais simples” (COLE&SCRIBNER, 2000).
A tendência materialista-mecanicista de Descartes foi refletida nos materialistas franceses do século XVIII e no materialismo sensualista de John Locke (1632-1704), na Inglaterra. Os seguidores de Locke desenvolveram sua visão empirista de mente dando conta de que as idéias eram constituídas a partir de sensações produzidas por estimulação ambiental. Comte (1798-1857) introduz a era da positividade, e a noção de introspecção, sendo as suas idéias seguidas por psicólogos empiristas que partiram para o estudo positivo.
Com Wundt (1832-1920) foi dado o passo definitivo para a constituição da Psicologia Experimental e, portanto, da Psicologia como ciência. Para Wundt importava uma Psicologia que só admitisse fatos e, dessa forma, o seu programa de estudos voltou-se à experimentação e à mensuração a fim de controlar os dados fornecidos pela introspecção. A trajetória de consolidação da Psicologia como ciência inclui, ainda, a influência da Biologia Evolucionista de Darwin (1809-1882), da Psicologia Experimental dos animais de Thorndike (1874-1949) e da Reflexologia russa de Pavlov (1849-1936).
Em síntese, a linha evolutiva da Psicologia é marcada por um constante oscilar entre as duas vertentes teóricas antagônicas, ora o pêndulo aponta para os princípios de uma tendência objetivista que prioriza o dado externo, e ora aponta para uma tendência subjetivsta calcada na consciência, ambas, por sua vez, objetivando atender às demandas configuradas em cada momento histórico que as originam.

2.       O BEHAVIORISMO: O ESTUDO DO COMPORTAMENTO
Conforme pontua Baum (1999) "a idéia do behaviorismo é simples de ser formulada: é possível uma ciência do comportamento". Tal argumento, explica ele, fundamenta-se no fato de que - apesar das controvérsias sobre o sentido de "ciência" ou de "comportamento", incluindo questões sobre "se a ciência do comportamento dever ser a psicologia" ou "se a psicologia é uma ciência" - "todos os behavioristas concordam que pode haver uma ciência do comportamento" (id.ibid.). Assim, segundo o autor, o behaviorismo pode ser referido como
um conjunto de idéias sobre essa ciência chamada de análise do comportamento, e não a ciência ela própria, o behaviorismo não é propriamente uma ciência, mas uma filosofia da ciência. Como filosofia do comportamento, entretanto, aborda tópicos que muito prezamos e que nos tocam de perto: por que fazemos o que fazemos e o que devemos e não devemos fazer.
Visando à melhor compreensão desse conjunto de idéias, abordamos, a seguir, as características relacionadas aos três principais modelos de Behaviorismo já que, desde a sua primeira geração, o sentido de "comportamento" sofreu transformações importantes.

2.1.             A PRIMEIRA GERAÇÃO: BEHAVIORISMO METODOLÓGICO
John B. Watson, com a publicação do seu artigo intitulado "Psicologia: como os behavioristas a vêem", inaugura, em 1913, o termo que passa a denominar uma das mais expressivas tendências teóricas ainda vigentes: o Behaviorismo. O termo inglês "behavior" significa "comportamento", razão pela qual usamos, no Brasil, Behaviorismo como também Comportamentalismo, Análise Experimental do Comportamento, entre outros, para nos referirmos à visão teórica em pauta (FURTADO, op.cit.). Ao postular o comportamento como objeto de estudos da Psicologia, Watson estabelece um objeto de estudos "observável e mensurável, cujos experimentos poderiam reproduzir diferentes condições e sujeitos” (ibid. p.45).
As concepções de Watson, guiadas pela psicologia objetiva de Comte, representam uma grande oposição à introspecção, movimento que vigorava na época, assim como rejeitavam também a analogia como métodos. As proposições de Watson, portanto, trouxeram respostas essenciais aos objetivos que os psicólogos buscavam na época e contribuíram para o rompimento definitivo da psicologia com a sua tradição filosófica. Como lembra Staats (1980),
(...) antes do aparecimento do behaviorismo, o método fundamental para a Psicologia era o da introspecção. Por algum tempo os psicólogos pensaram que a tarefa da psicologia era investigar os conteúdos, a estrutura e o funcionamento da mente, realizando o sujeito um auto-exame e relatando a sua experiência (...) o comportamento animal era igualmente interpretado adotando-se o conceito de consciência humana.
O behaviorismo metodológico toma como base o realismo. O realismo defende a idéia de que há um mundo real, que ocorre no mundo real, sendo que é a partir desse mundo real externo - objetivo - que constituímos o nosso mundo interno - subjetivo. Paradoxalmente, temos contato apenas com a nossa experiência interna que nos é dada pelos nossos sentidos. Isso porque o mundo externo, objetivo, não nos é accessível diretamente. Assim, os nosso sentidos nos fornecem apenas dados sensoriais sobre aquele comportamento real que nunca conhecemos diretamente (BAUM, op.cit).
Como behaviorista metodológico, portanto, o interesse de Watson concentra-se na busca de uma psicologia livre de conceitos mentalistas e de métodos subjetivos e que possa reunir condições de prever e de controlar. Para tanto, torna-se importante, em compasso com o realismo, estabelecer uma dicotomia entre o mundo objetivo-mundo subjetivo. À ciência, constituída de métodos próprios ao estudo do mundo objetivo, caberia lidar apenas com o mundo que está 'fora' do sujeito, o mundo que é compartilhado, accessível a outras pessoas e com o qual, por conseguinte, todos poderiam, potencialmente, concordar.
Entendendo que o homem possui um aparato orgânico que se ajusta ao ambiente em que vive por meio de equipamentos hereditários e pela formação de hábitos, Watson defende a idéia de que o comportamento deve ser estudado como função de certas variáveis do meio, sob o argumento de que certos estímulos levam o organismo a dar determinadas respostas. Nessa linha de raciocínio, ele procura descrever os eventos comportamentais atribuindo-lhes um caráter mecânico e o mais próximo possível da fisiologia, uma vez que as razões que estariam subjacentes ao 'levar' o homem a desempenhar o comportamento deveriam ser tratadas isoladamente.
O behaviorismo de Watson fundamenta-se em uma das leis mais famosas do behaviorismo metodológico que é a de Pavlov: o condicionamento clássico, ou o reflexo incondicionado que consiste, tomando as palavras de Furtado (op.cit.:47), "em respostas que são eliciadas (produzidas) por estímulos antecedentes do ambiente (ex. contração das pupilas quando há luz forte sobre os olhos)”. Aprofundando e ampliando tais noções, Watson chega ao conceito de "reflexo condicionado" que consiste em interações estímulo-resposta (ambiente-sujeito) nas quais o organismo é levado a responder a estímulos que antes não respondia. Isso se dá em função de um pareamento de estímulos, como por exemplo: imergir a mão na água gelada e ouvir o som de uma campainha repetidas vezes. Depois de um certo tempo, a mudança de temperatura nas mãos poderá ser eliciada apenas pelo som da campainha, isto é, sem a necessidade de imersão das mãos (FURTADO, op.cit.). A formulação do behaviorismo de Watson é representada pela relação S-R, onde S é o estímulo do ambiente e R a resposta do organismo.

2.2 A SEGUNDA GERAÇÃO: BEHAVIORISMO RADICAL
B.F. Skinner, em 1945, introduz o Behaviorismo radical, defendendo a análise experimental do comportamento. Contrapondo-se ao Behaviorismo metodológico de Watson, de cunho realista, o programa de Skinner adota os princípios do pragmatismo, cuja base é a de que a força da investigação científica reside não tanto na descoberta da verdade sobre a maneira como o universo objetivo funciona, mas no que ela nos permite fazer, ou seja, a grande realização da ciência é que ela permite dar significado a nossa experiência. Isso implica entender que o pragmatismo se preocupa com a funcionalidade do objeto real observável, mensurável, e não com a existência de um objeto real por detrás desses efeitos (BAUM, op.cit.; FURTADO, op.cit.).
Os behavioristas radicais, nessa linha, tentam romper com o dualismo  mundo objetivo-mundo subjetivo.Ou seja, em vez de se pautarem em métodos, eles adotam conceitos e termos "os termos que usamos para falar do comportamento não apenas nos permitem compreendê-lo, mas também o definem: comportamento inclui todos os eventos sobre os quais podemos falar sobre eles com os nossos termos inventados", conforme citação de Skinner, em Baum (op.cit.). Nessa esteira, os  beharioristas radicais equiparam a noção de verdade com poder explicativo e, então, buscam termos descritivos que sejam "úteis à compreensão e econômicos à discussão" - se a pergunta sobre a existência do universo real fora do sujeito é fútil, então também é fútil perguntar sobre a existência de uma verdade final, absoluta (idem).
Dessa perspectiva, os behavioristas radicais admitem todos os eventos naturais - passíveis de serem acessados - incluindo eventos públicos e privados e excluem os eventos fictícios - que não podem ser acessados. A mente e todas as suas partes e processos, como causas mentais do comportamento, são considerados fictícios e, portanto, constituem termos que devem ser evitados. O mentalismo é, portanto, insatisfatório, na medida em que é anti-econômico. Os behavioristas radicais assumem, dessa forma, que as causas do comportamento encontram-se na hereditariedade e no ambiente passado e presente.
À luz do que precede, o behaviorismo radical de Skinner está na formulação do "comportamento operante" que pode ser representado pela relação:  R à S , em que R é a resposta e S (do inglês 'Stimuli') é o estímulo reforçador que tanto interessa ao organismo, e a flecha significa 'levar a'. A esse respeito, segundo Keller (1973 apud Figueiredo op.cit.) o comportamento operante inclui todos os movimentos de um organismo dos quais se possa dizer que em algum momento têm efeito sobre ou fazem algo ao mundo em redor. O comportamento operante opera sobre o mundo, por assim dizer, quer direta, quer indiretamente.
Ou seja, no caso do comportamento operante a aprendizagem deixa de ser um mero condicionamento de hábitos e passa a considerar a interação sujeito-ambiente. Difere-se da relação R-S do comportamento respondente ou reflexo (Watson) na medida em que o estímulo reforçador que é chamado de REFORÇO assume a responsabilidade pela ação, apesar de ela ocorrer após a manifestação do comportamento. Neste caso, o que vai propiciar a aprendizagem dos comportamentos é a relação fundamental - a relação entre a ação do sujeito (emissão da resposta) e as conseqüências. Quer dizer, a aprendizagem está na relação entre uma ação e o seu efeito, significando entender com isso que as conseqüências das respostas às ações que praticamos são as variáveis de controle mais relevantes na determinação de nossos comportamentos subseqüentes.
Em resumo, estudar o comportamento é fazer uma análise funcional do comportamento - (F) S à (F)R - é descrever as funções que determinam uma dada resposta, ou seja, analisar as contingências (conjunto hipotético de relações funcionais) que determinam o comportamento.que envolve três dimensões: (a) eventos antecedentes; (b) respostas; (c) eventos conseqüentes. Muito embora só se possa definir a função reforçadora de um evento ambiental a partir da função que ele exerce sobre o comportamento do indivíduo, tem-se como definição que o 'reforço positivo' representa um evento que aumenta a probabilidade futura da resposta que o produz, tanto quanto um 'reforço negativo' representa um evento que aumenta a probabilidade futura da resposta que o remove ou atenua (FURTADO, op.cit.).

3.       A TERCEIRA GERAÇÃO: BEHAVIORISMO SOCIAL
Concordando com a idéia de que "as revoluções são feitas, geralmente, contra os grupos que estão no poder" mas discordando, contudo, de revolucionários extremistas que "demolem a velha ordem e não se preocupam em separar o que existe de certo e errado na mesma", Staats (1980) reivindica a sua posição de representante da 3a. geração de behavioristas, objetivando ultrapassar as duas gerações de behavioristas precedentes. Conforme diz ele, os dois movimentos anteriores caracterizam-se, justamente, pelo caráter extremista de seus programas.
Staats (1980) assevera que embora o programa de Watson tenha sido uma correção para os abusos da época, ele foi radical e por isso mesmo rejeitou importantes áreas de estudos, estendendo esta rejeição aos termos e métodos da introspecção. Da mesma forma, enfatiza o autor, a abordagem de Skinner
Manteve o extremismo da revolução original de Watson. Esta abordagem rejeita, sem maiores exames, os métodos, conceitos, princípios e observações das ciências sociais. Ele não elabora princípios que considerem a forma pela qual os seres humanos diferem dos animais. Não existe evidência de que o conhecimento social de qualquer outra espécie tenha sido sistematicamente formulado e tenha valor (...) significa, na prática, que qualquer outra coisa que não seja o condicionamento operante ou que não possa ser explicado como tal, incluindo muito do próprio behaviorismo, é rejeitado (ibid, p. 100-101)
Para Staats, uma característica fundamental da abordagem de Skinner e de seus seguidores é a de ser um sistema fechado. Trata-se, argumenta o autor, de um sistema restritivo e improdutivo, na medida em que a freqüência da resposta é o dado básico de Skinner e ele considera ser o único válido. E nesse sentido, enfatiza Staats (1980), Skinner "radicalizou o conflito entre o behaviorismo e as ciências humanísticas no que se refere à concepção de homem" (ibid p.102). Igualmente, o behaviorismo de Watson, prossegue o autor, "fracassou porque não considerou as pesquisas do comportamento humano que seguiam outras orientações" (id.ibid).
Assim, Staats (1980) reivindica para a evolução do behaviorismo a integração e união de áreas do conhecimento,  enfatizando a necessidade de "um paradigma que conduza à unidade todo esse esforço científico no estudo do homem", ou como diz ele "o que precisamos é de uma terceira geração de behaviorismo, o behaviorismo social" (ibid p.103). Em linhas gerais, os desenvolvimentos mais significativos do quadro conceitual da Teoria da Aprendizagem Social, que surgem a partir de Staats, englobam, dentre outros, os seguintes aspectos que passamos a discutir.
A primeira grande modificação introduzida foi o reconhecimento de que a análise do comportamento deve considerar os processos simbólicos, uma vez que a capacidade de utilizar a linguagem instrumentaliza a possibilidade de representação de eventos e de situar o presente com base em experiências passadas. Em decorrência, ao contrário das duas abordagens anteriores do behaviorismo, o interesse concentra-se na análise cuidadosa do pensamento e dos mecanismos que este utiliza para controlar a ação.
Uma Segunda inovação importante diz respeito "à concepção de comportamento como uma interação contínua e recíproca entre fatores ambientais, comportamentais e cognitivos" (DAVIS, s/d: 77). Uma nova visão que se contrapõe à de Skinner que concebe o comportamento como uma via de mão única, ou seja, assujeitando o homem à ação do ambiente. Em contraste aos pressupostos deterministas das abordagens anteriores que tratam os homens como organismos meramente passivos a um constante bombardeio de estímulos ambientais, o behaviorismo social coloca em pauta a ênfase nos processos auto-regulatórios. Passa a vigorar um determinismo recíproco entre homem-ambiente. O homem é capaz de direcionar o curso da sua ação, isto é, transforma-se em um organismo ativo que é capaz de selecionar e organizar dentre os estímulos que determinam as suas respostas, aqueles que considera relevantes.
Uma terceira modificação é a noção de "aprendizagem através de modelação" que se refere à aquisição de conhecimentos e comportamentos novos por meio de observação. A característica fundamental dessa abordagem é a de que "grande parte da aprendizagem humana depende de processos perceptuais e cognitivos". Quer dizer, "o reforço direto da própria ação é apenas uma das variáveis que atuam o processo de aquisição de novos padrões de respostas" (ibid. p.79). Assim, as expectativas individuais independem de resultados produzidos pelas próprias ações, ou seja, as respostas às ações de outros são importantes para guiar o próprio comportamento.
Enfim, a noção de behaviorismo social caminha em direção a uma explicação do comportamento que leva em conta a interação homem-ambiente de uma forma mais ampla do que os programas das duas gerações do behaviorismo anteriores tentaram propor.

CONSIDEAÇÕES FINAIS
Neste trabalho, a nossa intenção consistiu em focalizar o Behaviorismo, procurando traçar as suas condições de emergência e transformações dentro da linha evolutiva da Psicologia. Em linhas gerais, abordamos as características dos três principais modelos de Behaviorismo: behaviorismo metodológico - que toma como base o realismo e cuja expressão máxima é Watson;  behariorismo radical - que toma como base os princípios do pragmatismo e que tem como expressão máxima Skinner;  e o behaviorismo social - que nasce com Staats, em oposição aos dois programas anteriores por considerá-los sistemas fechados e, portanto, reducionistas. Dessa forma, o behaviorismo é direcionado a uma concepção mais humanística do comportamento.

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
BAUM, W. Compreender o Behaviorismo. Artes Médicas, 1999.
DAVIS, C. Modelo da aprendizagem Social. In: RAPPAPOR, FIORI E DAVIS. Teorias do Desenvolvimento: conceitos fundamentais. V. 1. EPUD (?)
COLE, M.; SCRIBNER, S. introdução. In: VYGOTSKY, L.S. A formação Social da Mente. São Paulo: Martins Fontes, 2000.
DESCARTES, R. Discurso do Método: regras para a direção do espírito. São Paulo: Martin Claret, 2000.
FURTADO, O; TEIXEIRA, M.L.T.; BOCK, A.M.B. Psicologias: uma introdução ao estudo da Psicologia. São Paulo: Saraiva, 1999
FREITAS, M.T.A. de. Vygotsky e Bakhtin: Psicologia e Educação: um intertexto. 4.ed. São Paulo: Ática, 2000
GABBI JR, O.F.. Leis, Regras e a Psicologização do Cotidiano. Departamento de Psicologia Experimental da USP; Depto. de Filosofia da UNICAMP - 1884
GUILHARDI, H.J. Palestra sobre o behaviorismo - proferida em 30/08/1988
KAHHALE, E.M.S.P; PEIXOTO, M.G.; GONÇALVES, M. da G.M. A produção do conhecimento nas revoluções burguesas: aspectos relacionados à questão metodológica. In, KAHAALE, E.M.S.P. (ORG) A diversidade da psicologia: uma construção teórica. São Paulo: Cortez, 2002
LURIA, A.R. Vigotskii. In: VIGOTSKII, L.S.; LURIA, A.R. LEONTIEV. Linguagem, desenvolvimento e aprendizagem. 7.ed. São Paulo: Icone, 2001 p. 21-37
MATOS, M.A. Com que o behaviorismo radical trabalha? (USP)
SANTOS, BOAVENTURA DE SOUZA. Um discurso sobre as ciências. 9.ed. Ed. Afrontamento, 1997
SKINNER, B.F. Sobre o behaviorismo. São Paulo: Ed. Cultrix, 1974
STAATS, A.W. Behaviorismo social: uma ciência do homem com liberdade e dignidade. In: Arquivos brasileiros de psicologia 32(4): 97-116, 1980



[1] Trabalho apresentado em 2003, para a disciplina "Desenvolvimento e Aprendizagem", ministrada pelo Prof. Dr. Sérgio Leite, na Faculdade de Educação da Unicamp.

Behaviorismo Links de Videos sobre o Assunto


Como a moda agora é postar videos de tudo e de todos, segue abaixo o link de alguns videos sobre o tema do nosso blog. Gileno Filho

https://www.youtube.com/watch?v=1a2dofmFn2Q

https://www.youtube.com/watch?v=zw1ZuRrQiFc

https://www.youtube.com/watch?v=0kefcf1azL4

https://www.youtube.com/watch?v=KWiLzXGJIPA

https://www.youtube.com/watch?v=N_uc-fzpxvk



quarta-feira, 11 de março de 2015





Introdução ao Behaviorismo

A palavra "Behaviorismo" vem de "behavior", em inglês, que se refere ao comportamento. A teoria também é conhecida por comportamentalismo, teoria comportamental, análise experimental do comportamento, análise do comportamento, etc. O behaviorismo surgiu como uma proposta para aPsicologia, para tomar como seu objeto de estudo o comportamento, pois este é visível e, portanto, passível de observação por uma ciência positivista. É a parte da psicologia que vai dizer que o meio determina o sujeito. A sua meta é a previsão e controle do comportamento.



O termo "Behaviorismo" foi utilizado inicialmente em 1913 em um artigo denominado “Psicologia: como os behavioristas a vêem” por John B. Watson. O Behaviorismo nasceu como uma reação ao mentalismo, ao introspeccionismo e à Psicanálise, que tentavam lidar com o funcionamento interior e não observável da mente.

J. B. Watson (1878-1958) é considerado o autor do behaviorismo, mas é necessário dizer que Watson foi, na verdade, o porta-voz dessa abordagem, devendo ser lembrado que antes de Watson, dois pesquisadores deram os primeiros passos dessa abordagem: o americano E. L. Thorndike (1874-1949) e o russo Ivan Pavlov (1849-1936).

Na Idade Média, a igreja explicava a ação e o comportamento do homem pela posse de uma alma. Depois, os cientistas o faziam pela existência de uma mente. As faculdades ou capacidades da alma causavam e explicavam o comportamento do homem. Os objetos e eventos criavam idéias em suas mentes e essas idéias geravam seu comportamento. Veja que ambas são posições essencialmente dualistas: o homem é concebido como tendo duas naturezas, uma divina e uma material, ou uma mental e uma física, como preferir. Além disso, note a circularidade do argumento: ao mesmo tempo em que essa alma ou mente causavam e explicavam o comportamento, esse comportamento era a única evidência desta alma ou desta mente.

Ao mesmo tempo em que os psicólogos tentavam fazer da psicologia uma ciência objetiva, a teoria da evolução estava tendo um efeito profundo sobre a psicologia ao definir os seres humanos não mais como entes separados das outras coisas vivas, dando a todas as espécies a mesma história evolutiva. Presumia-se assim, que poderia também se ver a origem de nossos traços mentais em outras espécies, mesmo que de forma mais simples e rudimentar. Por conta disso, no final do século XIX e início do século XX, alguns psicólogos passaram a conduzir experimentos com animais.







Watson é conhecido como o pai do Behaviorismo Metodológico ou Clássico, que crê ser possível prever e controlar toda a conduta humana, com base no estudo do meio em que o indivíduo vive e nas teorias de Pavlov sobre o condicionamento – a conhecida experiência com o cachorro, que saliva ao ver comida, mas também ao mínimo sinal, som ou gesto que lembre a chegada de sua refeição. Mas nem toda conduta individual pode ser detectada seguindo-se esse modelo teórico, daí a geração de outras teses.


Comportamento é o observável e, por definição, observável pelo outro, isto é, externamente observável. Comportamento, para ser objeto de estudo do behaviorista, deve ocorrer afetando os sentidos do outro, deve poder ser contado e medido pelo outro. O sentido de "Behaviorismo" foi sendo modificado com o correr do tempo e hoje já não se entende o comportamento como uma ação isolada do sujeito, mas uma interação entre o ambiente (onde o "fazer" acontece) e o sujeito (aquele que "faz"), passando o "Behaviorismo" a se dedicar ao estudo das interações entre o sujeito e o ambiente, e as ações desse sujeito (suas respostas) e o ambiente (os estímulos). Por exemplo, a aprendizagem é descrita como uma mudança no comportamento observável, devido à alteração da força com que a resposta está associada a estímulos externos ou estímulos internos no corpo. Aprendizagem = Condicionamento. Se queremos que uma pessoa aprenda um comportamento, devemos condicioná-la a uma aprendizagem.

Ivan Pavlov
A palavra "estímulo" veio de Pavlov (outra influência sofrida por Watson e os behavioristas da época e da qual também Skinner não conseguiu se livrar) e referia-se à troca de energia entre o ambiente e o organismo, quanto à operação realizada pelo experimentador em seu laboratório, uma parte ou mudança em parte do mundo físico que causava uma mudança no organismo ou parte do organismo, a resposta. Essa mudança observável no organismo biológico seria o comportamento. Comportamento = Estímulo + Resposta. A manipulação experimental por excelência seria a reprodução desse modelo, a operação "S -> R".
S = o estímulo do ambiente (estímulos)
R = resposta ou o comportamento do indivíduo como resultado de uma estimulação.













Skinner e o Comportamento Operante

Após Watson, o mais importante behaviorista foi B. F. Skinner.

B. F. Skinner
Skinner criou, na década de 40, o Behaviorismo Radical, como uma proposta filosófica sobre o comportamento do homem. Ele foi radicalmente contra causas internas, ou seja, mentais, para explicar a conduta humana e negou também a realidade e a atuação dos elementos cognitivos, opondo-se à concepção de Watson, que só não estendia seus estudos aos fenômenos mentais pelas limitações da metodologia, não por eles serem irreais. Em resumo, ele acredita que o indivíduo é um ser único, homogêneo, não um todo constituído de corpo e mente. Enquanto a principal preocupação dos outros eram os métodos das ciências naturais, a de Skinner era a explicação científica definindo como prioridade para a ciência do comportamento, o desenvolvimento de termos e conceitos que permitissem explicações verdadeiramente científicas. A expressão utilizada pelo próprio Skinner em 1945 tem como linha de estudo a formulação do "comportamento operante".

O condicionamento operante explica os comportamentos aprendidos durante a ontogenia do organismo. A diferença fundamental entre o condicionamento clássico e condicionamento operante é que o segundo pressupõe um ser ativo no seu ambiente.

O objetivo desse vídeo é propor uma reflexão sobre a visão behaviorista ainda presente na formação pedagógica.


Crítica e defesa do Behaviorismo


O behaviorismo não ocupa mais um espaço predominante na Psicologia, embora ainda seja um tanto influente nesta esfera. Os críticos dizem que o behaviorismo simplifica demasiado o comportamento humano e que vê o ser humano como um autômato ao invés de uma criatura com vontade e metas. O desenvolvimento das Neurociências, que ajuda a compreender melhor, hoje, o que ocorre na mente humana em seus processos internos, aliado à perda de prestígio dos estímulos como causas para a conduta humana, e somado às críticas de estudiosos renomados como Noam Chomsky, o qual alega que esta teoria não é suficiente para explicar fenômenos da linguagem e da aprendizagem, levam o Behaviorismo a perder espaço entre as teorias psicológicas dominantes.
"Quando lidamos com seres humanos dotados de vontade livre, nossa predição e controle falham. O homem tem liberdade de escolha." (Lundim, 1977)

 Independente do que os críticos dizem, a abordagem comportamentalista exerceu uma forte influência na Psicologia aplicada, principalmente nos Estados Unidos, levando ao estudo de problemas reais relativos a comportamento. E uma vez que aprendizagem é uma forma de mudança de comportamento, o procedimento de modificação de comportamento desenvolvido pelos comportamentalistas foi útil a muitos professores. 

Teoria de Pavlov